quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

TRABALHO FINAL


TEMA

Camelôs de artesanatos na feira Lauro Gomes, em São Bernardo do Campo

INTRODUÇÃO

O trabalho manual, ou artesanato, é utilizado pelo homem desde o período Neolítico (6.000 a.C), ou seja, desde o inicio de sua história. Por isso, os objetos eram feitos de madeira, pedra e fibras de animais e vegetais, e tinham como característica ser utensílios ligados a sobrevivência humana.

Antes da Revolução Industrial o comércio era formado apenas por artesanatos. As pessoas quando precisavam dos mais diversificados produtos, vestuário, alimentos, objetos em geral, não tinham opções de grandes marcas como temos hoje em dia, e eram obrigadas a comprar do comércio local.

Com a Revolução Industrial, que se iniciou em meados do século XVIII, há um verdadeiro choque na cultura do artesanato, com a desvalorização deste frente a mecanização e produtos industriais.

OBJETIVO

Analisar a cultura do comércio informal de artesanatos no cenário da industrialização.

JUSTIFICATIVA

Porque nas últimas décadas houve o aumento da entrada de produtos industrializados o que gerou a nossa curiosidade acerca da influência na vida desses trabalhadores informais.

PESQUISA DE CAMPO (ENTREVISTA COM ARTESÃOS)

Dados sobre a Feira de artesanato Lauro Gomes

Funciona das 8h30 às 17h30, todos os dias. Há um controle feito pela prefeitura do município sobre a frequência dos comerciantes na barraca da praça (fora os artesãos há também comerciantes de outros ramos, como alimentos). Se o comerciante faltar com frequência alta e sem justificativa, ou não respeitar também com uma frequência muito alta os horários, corre o risco de perder o ponto.

Muitos artesãos trabalham sozinho em suas barracas, e quando precisam ir ao banheiro ou almoçar dizem pedir aos amigos comerciantes para "olhar" sua barraca, ou mesmo abaixam ela, mantendo assim a segurança sobre os produtos.

MARIA GORETE

Os resultados da pesquisa de campo foram bastante proveitosos e consistentes. No caso da primeira entrevistada, Maria Gorete de 49 anos, ficou evidente sua satisfação com o que faz e ao mesmo tempo sua insatisfação com o declínio do artesanato decorrente, segundo ela, principalmente dos produtos industrializados chineses. 

Conforme relato da entrevistada, a mesma aprendeu a fazer artesanato olhando o respectivo marido, sem receber quaisquer instrução, o que pode referenciar uma cultura popular como descreveu o historiador Petrônio Domingues*, segundo o qual uma das características dessa manifestação é a transmissão oral da mesma, ou seja, sem uma formalidade acadêmica. 

Além disso, ainda analisando as ideias de Domingues, pode-se perceber que o artesanato, assim como uma infinidade de outras práticas culturais, tem-se transitado entre os cenários eruditos e populares, como a própria Gorete falou, atualmente existem cursos para se aprender a fazer objetos artesanais, o que de certa forma também está incluso na cultura erudita.

A entrevistada ao relatar sua história de vida, e tudo aquilo que está ou esteve presente dentro dela, remeteu a sua própria memória, o que pode-se novamente relacionar com as teorias de um outro estudioso, sendo esse o historiador Pierre Nora**. Gorete expôs uma certa simpatia ao Bin Laden, pois, para ela, ele foi um símbolo da tentativa de acabar com a industrialização, e seria portanto, alguém capaz de eliminar a tão temível China sob sua ótica, configurando dessa forma como uma memória simbólica. 

Já ao contar que além da barraca localizada na feira Lauro Gomes, ela e seu marido, também possuem uma outra na praia de Ilha Comprida, pode-se referenciar uma memória material, dado que a entrevistada descreveu as características da feira em que se encontra a barraca, segundo a qual, é composta por um número bem maior de barracas comparado à Feira Lauro Gomes, todas postas umas ao lado das outras e com um percentual de venda consideravelmente maior.

Além dos pontos relacionados aos autores citados, ficou-se evidente que o grau de identificação e identidade com o ambiente em que Maria Gorete trabalha é imenso, ela optou seguir a carreira de artesanato por simples questão de gosto, abandonando seu serviço como auxiliar administrativa de uma empresa. Há 33 anos trabalha com artesanato, e está localizada na Feira Lauro Gomes há 27, atualmente é sua única fonte de renda. 

Construiu laços nesse local, acompanhou o crescimento de crianças, muitas das quais a chamam de tia, e apesar dos lucros serem maiores na praia, Gorete se identifica mais com a feira em São Bernardo e não consegue ficar por muito tempo distante. Diz também, que mesmo o cenário do artesanato estando em crise, ela consegue vender, pois, já possui uma clientela fixa. Um outro ponto em que ela faz ressalva é o fato dela também colocar produtos da China em sua barraca, porque, "...se eu não puser eu não vendo" como a própria disse, e tenta diferenciar seus produtos dos encontrados na 25, para ter uma maior atração do público.

Entre os pontos positivos e negativos citados pela Gorete, é facilmente percebido o prazer em que ela tem pelo que faz e sua identificação com a Feira Lauro Gomes, tendo construído sua identidade à partir dessa, para finalizar fica aqui uma frase bastante expressiva dita por ela mesma: "Quando eu morrer quero minhas cinzas jogadas atrás da minha barraca".

* "Cultura popular: as construções de um conceito na produção historiográfica" - Petrônio Domingues
** "Entre Memória e História: a problemática dos lugares" - Pierre Nora

JOÃO

Outro entrevistado foi um também artesão de bijuterias chamado João (não falou sobrenome), um senhor negro que aparentava ter entre 40 e 50 anos. Ex-metalúrgico, João trabalha há 15 anos com artesanato na praça Lauro Gomes mas, ao contrário por exemplo da outra entrevistada Maria Gorete, demonstrava total desanimo com a situação de trabalho, tanto que quando questionado se pretendia trabalhar muitos anos ainda com artesanato respondeu: “minha ideia e ficar mais um pouco só e sair fora”.

Na conversa com João percebemos muito do empenho e das dificuldades enfrentadas pelos artesãos. Ele comentou que a preparação dos artesanatos não pode parar, sendo “dois dias em casa preparando o artesanato e dois dias na feira vendendo” - a esposa de João abre a barraca nos dias que o marido não consegue ir para a Lauro Gomes. A produção do artesanato é trabalhosa e o lucro pequeno. João comentou que gira em torno de vinte centavos de lucro por bijuteria, o que ele considera baixo.

Nosso segundo entrevistado também comentou o efeito negativo dos produtos chineses, que criaram muita concorrência principalmente para os artesãos de bijuteria. João, que disse não conseguir tirar toda renda para o sustento da família com o artesanato (e também preferiu não comentar sobre sua outra fonte de renda), mostrou um tom de desanimo durante toda entrevista. Para ele faltam mais incentivos para os artesãos poderem competir com produtos industrializados.


IVONE E SEU FILHO ALEX (ARTESÃO)

A entrevista foi concedida pela Ivone, que é a mãe do Alex, o artesão. Ela foi bem receptiva ao nos atender, e pode contar um pouco sobre a sua história de 18 anos como dona de uma barraca de artesanato em madeira, na Praça Lauro Gomes.

Ela nos contou que o filho aprendeu a esculpir madeiras ao ver o pai, que era lustrador, mexer com madeiras. Como ele sempre desenhou bem, isso o ajudou na produção de vários objetos espelhados em desenhos animados, uns dos produtos que encontramos em sua barraca, além de placas com os distintivos de clubes de futebol.Disse anos também que o filho é formado em Administração e Contabilidade, mas que largou tudo para fazer o que mais gosta, o artesanato.

Ao contrário do que observamos nos outros entrevistados, Ivone não quer colocar em sua barraca, produtos industrializados, mesmo considerando que estes têm um custo menor e contudo pelo fato de que as vendas não andavam muito bem no momento. Ela se queixou dizendo que o poder aquisitivo do povo estava baixo. Por essa razão, disse a nós que a renda proveniente das vendas não era suficiente e que possuíam uma oficina recuperadora de móveis.

Ela relatou a nós que os produtos chineses atrapalham, pois são bem mais baratos, o que torna o produto artesanal pouco atraente financeiramente para o consumidor. Outra questão é fato de que as pessoas não estão dando valor ao artesanato, pois desconsideram o tempo que se leva para construir uma determinada peça, a criatividade e o empenho depositados pelo artista. Foi dito a nós também que há um certo descaso das autoridades no que diz respeito à conservação da praça, ela acha que se fosse feito um investimento na melhora da infraestrutura, isso acarretaria numa maior atratividade de consumidores para a praça e consequentemente, as vendas aumentariam.

É claro que a Ivone não apenas lamentou a sua atual situação, e até fazendo uma relação com a disciplina Identidade e Cultura, o que a ajuda se manter na praça, é a identificação com o lugar, com as pessoas que por lá passam quase todos os dias e os próprios colegas de trabalho, que trocam as suas experiências e histórias de vida. Achamos muito interessante uma frase em que ela diz: “Não conheço todo mundo, mas todo mundo me conhece”. Isso nos mostra que por mais que a questão financeira seja importante, esses artistas continuam a percorrer esse árduo caminho com esperança, pois em tudo o que fazem, depositam todo o seu amor e toda a sua dedicação no que fazem. E é isso que os mantém firmes e fortes para continuar essa longa jornada.

CONCLUSÃO

A industrialização afetou e ainda gera efeitos no mercado de artesanatos e na procura na preferência dos consumidores. Produtos artesanais possuem desvantagens no tempo e custo de produção em relação a "concorrentes industrializados", fato que levou muitos artesãos a se adaptarem as novas "regras" para sobreviver no mercado.

Todos os entrevistados comentaram o efeito negativo dos produtos chineses para o artesanato. Os materiais oriundos da China chegam com baixíssimo valor no mercado e se assemelham muito aos produtos artesanais, principalmente no caso de bijuterias.

Para se destacar da concorrência, os artesãos buscam cada vez mais a diferenciação no produto para atrair o consumidor (não mais 100% artesanais)

Por fim, com a análise dos dados da pesquisa de campo podemos concluir que houve mudanças significativas na cultura do artesanato, principalmente nas últimas décadas e o mercado continua em constante transição.

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